"Nue": maio 2007

quinta-feira, maio 31, 2007


O encontro com o outro é por vezes doloroso, destrutivo, penoso.
Esta manhã tive um “encontro” com uma menina de 5 anos. Reencaminhada pela Liga dos Direitos Humanos, vítima de maus-tratos por parte da mãe. A menina decidiu fugir de casa e refugiar-se numa escola onde foi acolhida. A mãe obrigava-a a participar em inúmeras tarefas caseiras não apropriadas à idade, para além de agredi-la frequentemente com diferentes objectos. Ali estava sentada à minha frente, uma menina com aspecto frágil, afundada numa cadeira, a olhar para mim com um rosto sem expressão quase.

Mesmo que seja uma rotina no meu trabalho, receber este tipo de casos, cada um deles conta histórias de luta, de força, de humilhações, de perdas a vários níveis e de sobrevivência. Sobrevivência...temos todos dentro de nós algo que nos impulsiona para a vida. Somos capazes de passar por situações de grande violência e sobreviver. Continuamos a andar, com alguma dificuldade, com mais mazelas mas algo nos faz continuar e continuar...

Em algumas situações de desespero, a última dor é desaparecer. Não há mais combates, morre em nós aquilo que nos fez andar até ali. Morre a esperança?

terça-feira, maio 29, 2007

O sentido da nossa existência, deveria existir em cada gesto nosso.
Hoje enquanto guiava, tive uma sensação forte de estar viva, apeteceu-me sentir cada momento do dia, com toda a intensidade. Olhei de forma diferente para a rua, para as pessoas, para o edifício onde trabalho; olhei de forma diferente para o meu quotidiano. Apeteceu-me entrar para dentro de mim e sentir cada tecido, cada fibra, cada célula. Não é isto que deveríamos fazer sempre? Encontrar um sentido de vida, no simples facto de estarmos vivos; de nos sentirmos vivos? Estarmos verdadeiramente presentes quando realizamos algo e suficientemente longe para nos vermos a nós próprios agir; o sentido surge quando amor e vigilância se reúnem?


segunda-feira, maio 28, 2007

O sentido...o sentido nasce de uma relação...
Os bebés nascem com um potencial incrível de sedução, cujo objectivo principal é o contacto com o outro. Um verdadeiro arsenal que visa “seduzir”, por via de mímicas, risos, sons, etc., aqueles que lhes são mais próximos, procurando criar um modo de relação mais íntimo, mais rico e intenso.
O sentido nasce da capacidade de se descentralizar de si próprio para visitar o mundo mental do outro, o mundo do Outro.

domingo, maio 27, 2007

Quem não se interroga, nem que seja por um pequeno instante, sobre esta questão? Quantas vezes eu própria no meio de um turbilhão de afazeres, não me interroguei sobre o porquê da rotina a que nos impomos...qual é o sentido de tudo o que fazemos?

Viktor Frankl, psiquiatra, dedicou a sua vida a ajudar os seus pacientes a encontrar um sentido nas suas vidas. Ele propôs três grandes vias pelas quais podemos encontrar esse sentido: primeiro através daquilo que oferecemos ao mundo como criação: trabalho, filhos, actividade artística, etc., depois o que absorvemos do mundo como encontros e experiências de vida e finalmente a forma como respondemos e sobrevivemos às provas por vezes absurdas que a vida nos traz.

Existe um ponto comum a estas três grandes vias: o encontro com o Outro, o facto que estamos invariavelmente ligados aos outros. Como diria Boris Cyrulnik, sem os outros, não existe sentido. Sermos amados, termos alguém para amar nos faz avançar.

O fotógrafo James Nachtwey mostra numa foto verdadeiramente chocante, uma criança órfã a enterrar os dedos na orbita dos seus próprios olhos. Que sentido podemos dar a uma imagem destas? Em etiologia sabe-se que se um ser vivo, humano ou animal se encontrar privado do contacto com os seus pares, pode deixar de se desenvolver; privado de estimulação exterior, ele pode estimular-se a si próprio, como as crianças abandonadas que poderão apresentar comportamentos pseudo-autisticos, auto-centrados; bater repetitivamente com a cabeça contra o chão é uma forma de os trazer por instantes ao mundo real.

(cont).

sábado, maio 26, 2007

Voltei após algum tempo de ausência. Tive saudades deste meu espaço!
Neste tempo de ausência sofri algumas perdas e pretendo através deste espaço,
dar um novo sentido à vida, neste caso, à minha. Prendre un peu du recul pour me voir agir. Procurar uma direcção, procurar no meu melhor uma ponte para me reconstruir. Após uma queda, existe sempre um caminho reconstrutivo que nos deverá levar a um reequilíbrio.
O tema que proponho é exactamente este: comment donner du sens à sa vie?
Para onde corremos? Para onde vamos? Como ganhar consciência do carácter da nossa existência?