Em consulta, sentaram-se de costas viradas um para o outro…e durante uma hora em que estiveram comigo, mantiveram-se calados a maior parte do tempo e quando falaram, foi somente para se fazerem acusações.
Estes dois seres humanos tiveram uma história juntos, um dia gostaram um do outro e decidiram construir uma família. Tiveram um filho, partilharam momentos lindos com esta criança e, chegaram a este ponto, ao limiar…onde não existe mais diálogo…e onde a única ponte que ainda os une ou parece unir, é este filho que vai dos braços de um para o outro sem perceber o que acontece. E este menino deixou de ver sorrisos entre os pais, deixou de ver carinho entre eles. Este menino deixou de ter estabilidade, segurança. E ninguém lhe explica o que acontece e ele não percebe porque razão os pais se afastaram um do outro…
E estes pais esqueceram-se desta criança, centrados nos seus conflitos e desavenças.
Muitas crianças se responsabilizam muitas vezes pela separação dos pais, pelo conflito entre os pais. Faz-me lembrar uma vez uma menina em consulta, que me disse que se se tivesse portado melhor, os pais ainda estariam juntos. É tão importante explicar às crianças o que se passa à volta delas…dar significado ao que acontece, seja bom ou mau.
Sempre me afligiu a ruptura. O que fica depois de uma ruptura? Muitas vezes o silêncio. Como conseguem coexistir no silêncio duas pessoas que num momento das suas vidas partilharam momentos de tão grande intimidade. Silêncio…depois de tanta cumplicidade. Passar um pelo outro como se dois estranhos se tivessem tornado um para o outro. E quando de uma união, nascem filhos que têm que viver nesse silêncio? Como encontram eles palavras para construírem a sua história?