Tenho a impressão, desde que trabalho nesta área, que todos aqueles que trabalham nos meios hospitalares, médicos, enfermeiros, psicólogos, etc., vivem num mundo à parte. Nesse mundo vemos e ouvimos horrores humanos. Depois existe uma linha contínua que nos leva desse mundo ao outro, o mundo dos nossos amigos, família, etc. e muitas vezes quem compõe o mundo de fora vive numa aparente inconsciência do que se passa no nosso dia-a-dia de trabalho. Inconsciência forçada? Ignorar o que se passa seria uma forma de sofrer menos? Sentir-se menos responsável?
Tenho amigos que me dizem que deveria escrever sobre coisas mais bonitas. Mais coloridas…e eu pergunto-me…escrever sobre coisas mais bonitas? O que existe de mais bonito, do que sentir que estou a tentar reconstruir vidas? Sentir que estou a caminhar com outros seres humanos, que estão em sofrimento e que ao estar com eles, estou também a abri-lhes uma janela para a vida? E que neste processo, torno a minha vida muito mais rica…
Durante a semana, vi uma menina de 8 anos de idade. Veio acompanhada pelo pai à consulta. Filha de pais separados. Há dois anos um homem (um primo) entrou pela casa onde a menina estava apenas com uma das irmãs e esfaqueou-a. Foi submetida a várias intervenções cirúrgicas e hoje vive apavorada, sempre cheia de medo, não consegue dormir durante a noite, acorda em sobressalto, tem pesadelos, falta de apetite, o rendimento escolar diminuiu, para além de outras dificuldades.
Uma outra ainda, mais velha, de 16 anos, foi apanhada na rua por 4 homens quando voltava da escola para casa, e levada para um local abandonado, onde foi espancada e violada por todos eles. Ora, esta jovem, para além da violência pela qual passou e de tudo o que perdeu, corre o risco de ter sido contaminada pelo HIV.
Como devolver o sorriso a estas duas meninas?
Tenho amigos que me dizem que deveria escrever sobre coisas mais bonitas. Mais coloridas…e eu pergunto-me…escrever sobre coisas mais bonitas? O que existe de mais bonito, do que sentir que estou a tentar reconstruir vidas? Sentir que estou a caminhar com outros seres humanos, que estão em sofrimento e que ao estar com eles, estou também a abri-lhes uma janela para a vida? E que neste processo, torno a minha vida muito mais rica…
Durante a semana, vi uma menina de 8 anos de idade. Veio acompanhada pelo pai à consulta. Filha de pais separados. Há dois anos um homem (um primo) entrou pela casa onde a menina estava apenas com uma das irmãs e esfaqueou-a. Foi submetida a várias intervenções cirúrgicas e hoje vive apavorada, sempre cheia de medo, não consegue dormir durante a noite, acorda em sobressalto, tem pesadelos, falta de apetite, o rendimento escolar diminuiu, para além de outras dificuldades.
Uma outra ainda, mais velha, de 16 anos, foi apanhada na rua por 4 homens quando voltava da escola para casa, e levada para um local abandonado, onde foi espancada e violada por todos eles. Ora, esta jovem, para além da violência pela qual passou e de tudo o que perdeu, corre o risco de ter sido contaminada pelo HIV.
Como devolver o sorriso a estas duas meninas?
4 Comments:
Acho que sorrisos perdidos nao se encontram ou se devolvem. Mas oferecem-se um, outro e depois muitos.Para elas e para muitas outras meninas iguais talvez seja dificil sorrir, cabe a nos mostra-las que o amanha pode ser melhor. Bjs. Tuchamz
Cara Mabel,
Posso até mesmo sentir tua angústia diante deste "quadro",traumático.Sei que sabes que terás um longo caminho a percorrer,pois, fatos desta natureza são extremamente delicados e deixam marcas profundas no ser.De certo ainda sorrirão,mas cicatrizes permanecerão...risos menos largos riscados por lembranças;
Com amor,com firmeza,com doçura e principalmente nada omitindo,certamente encontrarás "nestas",pequenas mudanças...só então poderás começar teu tão valoroso trabalho.Sucesso te desejo,neste teu mais novo e sofrido caminhar.Confie!!!
Tuchamz,
Olá. “Devolver”, foi uma expressão para dizer, fazer surgir no rosto triste de uma criança, um sorriso e, a vontade espontânea dela sorrir de facto. Sorriso que existia antes, sem medo e que poderá acontecer novamente com o trabalho terapêutico (e não só), onde o mais importante é a criação de um espaço de confiança, de aceitação e de compreensão. Merci pela sua presença neste blog, gosto dos seus comentários.
Ao comentário anónimo feito sobre este tema: agradeço as suas palavras de encorajamento! Obrigado!
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