"Nue": junho 2009

domingo, junho 14, 2009

Para ti...o teu bebé está naquela caixinha chamada incubadora...custa-te vê-lo longe de ti, quando o sonhaste tantas vezes nos teus braços. Eu percebo as tuas lágrimas. Eu sei que foi um percurso muito difícil, é só mais uma prova difícil mas vais conseguir!! Lembra-te...tens muita força dentro de ti. Estarei aqui para te ajudar mais uma vez e prometo que irei dizer-lhe olá por ti, todos os dias.

sábado, junho 13, 2009

Je t’aime mon ânge !

“Só pode amar e amar-se quem foi amado.”

Coimbra de Matos

Este amor construído provém (porque acredito que o afecto se constrói ! Não temos um interruptor interno...ligamo-lo e opps!!!...amamos apaixonadamente este ser que cresce dentro de nós)...de várias trocas que se realizam logo no início, em que o projecto (ou não) é pensado e realizado: ter um bebé. As vezes não é um projecto, torna-se num...as vezes esse mesmo projecto é amado e desejado, outras vezes ele é rejeitado.

O feto é um ser ocupado e antes de tudo, um ser social! As competências precoces, hoje conhecidas através de vários estudos sobre a vida intra-uterina, nos mostram que ele tem um potencial inato que o torna capaz de entrar em contacto com o mundo à volta antes mesmo de existir fora do ventre materno. Como diria Eduardo Sá, “o que parece acontecer é que, após o nascimento, e mesmo durante a gravidez, o bebé possui um aparelho mental ainda não completamente desenvolvido, que lhe permite entrar em contacto com o mundo externo e com o seu próprio mundo interno.”

Nestes 9 meses de gestação, nesta incrível viagem, uma personalidade se constrói. Esta personalidade vai inscrever-se no amor que o bebé sentiu e recebeu dos seus progenitores. Sentir-se tocado, acariciado, desejado e amado torna-o humano, fá-lo Existir. É aqui que nasce a auto-estima, conceito de grande complexidade e determinado essencialmente pelas experiências de vida iniciais, que vai determinar em grande parte o modo como o indivíduo irá construir e estabelecer relacionamentos e a forma como irá reagir e adaptar-se ou não ás várias situações que se vão impor ao longo do seu percurso de vida.

A auto-estima é algo que se desenvolve no berço e nos primeiros anos de vida. Os pais ocupam aqui um papel fundamental. Através de comportamentos verbais e não verbais dirigidos ao bebé e à criança, os pais vão permitir que ela vá desenvolvendo uma imagem positiva ou negativa de si própria.

Quando Coimbra de Matos nos diz que “só pode amar e amar-se quem foi amado”, ele acredita que numa sequência natural, trata-se de um processo que se inicia no ser-se amado e desejado (pelos pais), que passa posteriormente pela capacidade de amar (amar-se a si próprio) para finalmente se ser capaz de amar o outro. Isto pressupõe por parte dos pais, um amar incondicional e a não exigência de retribuição desse amor. Isso pressupõe sensibilidade ao que a criança diz, sente ou pensa; levá-la a sério; transmitir sinais constantes de amor e saber transmiti-los; transmitir à criança uma boa imagem de si próprio; aceitar a criança tal como ela é, e tratá-la com dignidade; entre muitos aspectos que irão tornar a criança capaz de tornar-se autónoma, acreditar em si própria e nas suas competências; ser capaz de aceitar desafios e ultrapassar problemas, ser capaz de relacionar-se com os outros e de forma saudável, ser capaz de amar! Numa frase de Carl Rogers,
“uma boa estima se si, constitui um excelente protector da sua sanidade mental.”

sexta-feira, junho 12, 2009

Palavras são janelas (ou são paredes)

Sinto-me tão condenada
Tão julgada e dispensada
Antes de ir, preciso saber:
Foi isso que você quis dizer?
Antes que eu me levante em minha defesa,
Antes que eu fale com magoa ou medo,
Antes que eu erga aquela muralha de palavras,
Responda: eu realmente ouvi isso?
Palavras são janelas ou são paredes.
Elas nos condenam ou nos libertam.
Quando eu falar e quando eu ouvir,
Que a luz do amor brilhe através de mim.
Há coisas que preciso dizer,
Coisas que significam muito para mim.
Se as minhas palavras não forem claras,
Você me ajudará a me libertar?
Se pareci menosprezar você,
Se você sentiu que não me importei,
Tente escutar por entre as minhas palavras
Os sentimentos que compartilhamos.

Ruth Bebermeyer


segunda-feira, junho 08, 2009

Eu estou aqui
Braços abertos
Na imensidão do meu ser
Forte na minha aparente fragilidade
Tenho sonhos grandes, sonhos lindos
Sonhos coloridos para oferecer
Não sei representar
Não sei rir quando devo chorar
Nem calar quando devo gritar
Não sei esconder
Quando devo mostrar
Corro para onde serei tranquilidade
Corro para onde a mentira não tem lugar
Corro para onde me deixam ser eu
Para onde o impossível se torna possível
Para onde nunca me deixarei morrer
E para onde continuarei sempre a acreditar
Que no caos total, permanecerei eu
Algo destruída, algo magoada, algo perdida
Mas eu

domingo, junho 07, 2009



A violência assume várias formas. Algumas vezes muito subtil: o “amo-te” que não dizemos, um olhar frio e despido de afecto, o sorriso que não damos, o tempo que não disponibilizamos mas também a violência física das nossas mãos...as mesmas mãos que deveriam existir para amar e dar carinho...as mesmas mãos capazes de esbofetear, dar murros arrancar coisas, empurrar. Mas a violência está também nas palavras, palavras que resumem a vida do outro a um nada. As palavras podem ter tanto peso que se perpetuam para toda a vida, bem incrustadas na memória dos que as ouviram e quando lembradas, doem. Dizer a um filho: “tu não serves para nada...” ou simplesmente fazê-lo sentir-se um nada, é algo absolutamente destrutível.

Somos responsáveis pelo “devenir” dos nossos filhos:
Vejo crianças todos os dias, carentes de afecto, carentes de mãe e de pai. Carentes de amor. Não há tempo para elas. As crianças passaram a ter vários “pais adoptivos”: as televisões, os playsations, as “babás”, entre outras.

Eu digo NÃO à violência.


Queria poder escrever coisas bonitas. Queria poder fazer muito mais todos os dias, por aqueles que vejo sofrer. Sinto que o TUDO que faço, é sempre insuficiente. O meu universo é “tratar” horrores cometidos por outros.

05. 06. 2009 - Manhã - percorrendo enfermarias:

Um bebé de 2 meses e meio foi violado, esteve a ser cozido durante horas. Quem foi o monstro capaz de uma atrocidade deste tamanho?

Menina de 11 anos violada pelo padrasto e gravidez interrompida aos 5 meses...muito pequena, encolhida na cama, entre os lençóis e capulanas. Violada por quem era suposto protegê-la.

Menina de 8 anos, violentamente espancada pelo próprio pai. Os olhos mal se vêem, de tal forma os inchaços e ferimentos são severos.

Chamo a estas crianças: sobreviventes.

Por mais horas, meses e anos de trabalho que tenha percorrido, por mais teoria que tenha absorvido, a violência humana continua a espantar-me. Quando acredito já ter visto tudo, sou surpreendida...pela crueldade humana.
As crianças foram sempre e continuam a ser vítimas perfeitas de predadores sem escrúpulos. As crianças estão expostas a acções violentadoras, onde o adulto se desresponsabiliza de cuidar delas e protegê-las, onde o adulto se sente no direito de apagar a luz que brilha lá dentro, no interior de cada ser que ainda não tem voz para dizer não, que ainda não tem forças para se defender, nem maturidade para compreender porque lhe fazem mal.

Muitos preferem ignorar o que acontece. É mais fácil porque acontece com os outros. Sofremos pelos pequenos nadas que nos acontecem. Somos patéticos!