"Nue": outubro 2006

quinta-feira, outubro 19, 2006

Uma jovem de 28 anos, disse-me mais ou menos isto durante uma sessão terapêutica:

“…apetece-me entrar no mar e desaparecer. Desapareceriam assim todas as dores, todos os combates. Desapareceria esta dor que não cabe mais em mim. Desapareceria esta sensação de vazio, de estar incompleta. A sensação de não estar em parte alguma…”

Aparecem-me muitas mulheres em consulta, que nos seus relacionamentos amorosos, apresentam um comportamento semelhante ao que podemos observar em toxicodependentes. Dependência emocional. As feridas acumuladas dentro de nós, levam-nos por vezes a envolvermo-nos em situações extremas de dependência emocional. Depender do outro. Como se o sofrimento fosse algo pelo qual estas mulheres tivessem de passar, obrigatoriamente, como forma de colmatar carências passadas. Como se fosse um ciclo vicioso, repetir situações de privação emocional, vividas na infância. Este termo “dependência”, provoca algum medo, faz-nos pensar em drogas tóxicas, agulhas, etc.

Numa passagem de um livro, li:

“…amar demais não significa amar demasiados homens, ou apaixonar-se com frequência, ou sentir um amor profundo e genuíno por outra pessoa. Significa, na verdade, terem uma obsessão por um homem e designa-la por amor, permitindo-lhe que controle as suas próprias emoções e grande parte do seu comportamento e, apesar de se aperceberem de que esta obsessão influencia negativamente a sua saúde e bem-estar, serem incapazes de se libertar dela. Significa medirem o grau do amor que sentem traves da profundidade do sofrimento.

“Quando amar demais é sinónimo de sofrer, estamos a amar demais…

“Quando desculpamos o seu mau humor, mau feitio, indiferença ou desconsiderações como problemas decorrentes de uma infância infeliz e procuramos ser a sua terapeuta, estamos a amar demais…

“”Amar se transforma em amar demais quando o nosso companheiro é inadequado, não nos liga ou é inacessível e, no entanto não conseguimos deixá-lo na realidade, desejamo-lo e necessitamos ainda mais dele…

“Nós, que amamos obsessivamente, estamos cheias de medo – medo de estarmos sós, medo de não sermos amadas ou de não valermos nada, medo de sermos ignoradas, abandonadas ou destruídas…

“Somos atraídas por homens que vão reencarnar as dificuldades pelas quais passámos com os nossos pais, quando tentávamos ser suficientemente boas, dedicadas, válidas, prestáveis e inteligentes de forma a conquistar o amor, a atenção e a aprovação por parte de quem era incapaz de nos dar aquilo de que precisávamos, por causa dos seus próprios problemas e preocupações.”

quarta-feira, outubro 18, 2006

Quem procura ajuda terapêutica está normalmente fragilizado por uma situação crítica da sua vida. Procura segurança, estabilidade, equilíbrio e, muitas vezes, pensa que o psicólogo é detentor de uma fórmula milagre que o tirara imediatamente da situação de sofrimento. Ora, o processo terapêutico implica uma mudança. Será ele capaz desta mudança?
Observo algumas vezes, que no processo terapêutico, pode ocorrer uma espécie de fuga, em que o indivíduo se sente como que encurralado e com medo de deslocar as pedras, que umas sobre as outras, escondem momentos passados não muito gloriosos.

terça-feira, outubro 03, 2006

“Há um moleque, há um menino, morando dentro do meu coração, toda vez que o adulto fraqueja, ele vem me dar a mão.” (Milton Nascimento)