Fui chamada para ver uma criança internada.
Menina, 13 anos, foi encontrada numa palhota onde foi enclausurada pela madrasta durante 4 anos. Foi encontrada por algumas senhoras que trabalham para uma igreja, trouxeram-na ao hospital para receber cuidados médicos. O estado dela é deplorável: sub nutrida, tinha apenas 11 kg quando foi hospitalizada…o corpo desaparecia entre as roupas…a pele cheia de manchas, feridas; os braços estão comprometidos, ficaram na posição em que se colocou durante o tempo todo em que permaneceu dentro da palhota, recolhidos contra o corpo; o mesmo sucede com as pernas…o rosto é só olhos…contaram as senhoras que quando chegou ao hospital, a menina escondia-se assustada sob a capulana, com medo das pessoas. Gradualmente foi-se habituando ao movimento da enfermaria e a sociabilizar melhor. Esta menina tem ainda um grande percurso a fazer: irá ser seguida por diferentes especialidades; irá ser submetida muito provavelmente a algumas cirurgias.
Quase todos os dias vou vê-la. Já sorri quando me vê aparecer. Fico feliz.
Tarefa comum no quotidiano do meu trabalho: acompanhar meninas e meninos que sofreram de forma breve ou prolongada situações de violência emocional e física e que me deixam caminhar com elas, ajudando-as a quebrar o silêncio e a sonhar um futuro melhor.
Decidi fazer parte daqueles que fazem “barulho”, dos que denunciam a violência e lutam contra ela. Somos todos cúmplices enquanto nos mantivermos em silêncio! Como manter-me calada quando diariamente em pilha sobre a mesa, encontro processos de crianças vítimas de abuso sexual e violação? As histórias são semelhantes, os cenários repetem-se e choca-me profundamente a crueldade do Homem!
5 Comments:
Olá,
teu trabalho é muito interessante. Nós também queremos ajudar as outras crianças.
Bjs
http://www.mozambique-music.com/seguindosonhos.htm
http://www.myspace.com/seguindosonhos
e pelo que tenho visto a crueldade nao tem fronteiras, nem geograficas, nem culturais, nem de calsse social.
COntinue o bom trabalho
Jokas
Paula
Dra, e notavel o trabalho que tem feito,quer a nivel individual,quer a nivel do CERPIJ.
Apesar de muito (mal) falada, a situacao do abuso fisico e mental das criancas ainda nao e encarado com a seriedade necessaria...
Bem haja esta sua atitude de "levantar a voz"...
Mabel,
O seu trabalho é muito nobre. Parabéns!
O mundo precisa urgentemente de mais pessoas assm... obrigado por cuidar de crianças, pois são as melhores coisas do mundo.
Um abraço!
Cheguei ao teu blog pelo braco do Dr. Serra.
Interresante.
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